Corinthianismo

Por LEONOR MACEDO*

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Se você gosta de futebol e já sabia que a rodada de domingo, 29/11, estava arranjada para favorecer o Flamengo antes mesmo de ela acontecer, aconselho que desista do esporte.

Que tente canalizar sua energia para algo mais legítimo, mais honesto, mais respeitoso, mais digno.

Porque futebol é isso: é o ópio do povo, é irracional e se pararmos para pensar, a gente pára de gostar.

É amor, é paixão, é utopia, é ingenuidade. É burrice.

Fui para Campinas, com toda a minha burrice e ingenuidade, confiando no discurso da diretoria do Corinthians e dos jogadores de que seria o “jogo do ano”.

Ronaldo prometeu uma chuva de gols, outros jogadores afirmaram que dariam o sangue, o técnico se irritou ao ser questionado sobre um possível favorecimento ao Flamengo para eliminar as chances do São Paulo ser campeão: “o Corinthians estará empenhado para ganhar. Se o São Paulo não fez a sua parte, não é um problema nosso.”

Acreditei e fui confiante!

Comprei meu ingresso mesmo sabendo que a renda do futebol seria destinada ao carnaval do centenário, em 2010.

Mesmo sabendo que o correto é utilizar a arrecadação do futebol com o futebol. Fui porque meu amor pelo futebol é muito maior do que meu ódio pelo carnaval.

Cheguei a Campinas cedo, ganhei uma carona de carro e almocei em um shopping relativamente próximo ao estádio.

Vi dezenas de corinthianos exibindo suas camisas orgulhosos, confiantes na equipe, assim como eu.

Porque me recuso a acreditar que algum corinthiano realmente estivesse interessado em uma derrota para o Flamengo apenas para prejudicar o São Paulo.

A rivalidade não pode ser maior do que a vontade de ver seu time ganhar qualquer coisa, até campeonato de Master.

Cresci aprendendo que existem apenas dois tipos de torcida no Brasil: a corinthiana e a anticorinthiana.

A nossa, até então, era a corinthiana.

Quando entrei no estádio (com uma entrada relativamente organizada nas catracas do Fiel Torcedor, diga-se de passagem), acomodei-me em um degrau semi-alagado e vi o Brinco de Ouro da Princesa lotar de corinthianos e flamenguistas, que também compareceram.

Foi quando Evandro Roman apitou e a vergonha começou.

Não falo apenas de erros grotescos de arbitragem porque, se eu sou ingênua a ponto de acreditar na hombridade de um elenco todo, sempre acreditei em juiz ladrão.

Falo de corpo mole, de recuar a bola para o goleiro em um ataque, de 90% de passes errados, de contusões inexplicáveis, da expulsão do nosso capitão, do nosso técnico.

De 10 jogadores caminharem dentro de campo (o único que tentou foi Defederico, que não fala português e que talvez não tenha entendido a recomendação de entregar uma partida), de um goleiro não tentar pegar a bola em forma de “protesto” contra a arbitragem (e o melhor protesto que ele podia ter feito ali era agarrar o pênalti e honrar os milhares de corinthianos que estavam na arquibancada).

De o nosso elenco fazer o que fez estampando o rosto de centenas de corinthianos na nossa camisa (a obrigação de ganhar a partida podia ser só por esse motivo).

De ouvir um meia do Corinthians que está de férias desde o fim do Campeonato Paulista justificar seus erros na arbitragem (concordo, Elias, que o juiz errou, é péssimo e tem que ser punido, mas quando foi que o Corinthians dependeu de juiz?).

De ver o nosso técnico ser expulso quando ele é o primeiro que tem que manter a cabeça fria para dar tranqüilidade ao elenco, honrando o salário milionário que ele recebe. E depois reclamar da arbitragem também, sendo que o próprio, no meio do campeonato, afirmou que a prioridade nunca foi o Campeonato Brasileiro, mas o time em 2010.

A prioridade, senhor Mano Menezes, é respeitar o torcedor do Corinthians e tentar vencer tudo o que se propuser a ganhar.

Eu não tenho seis meses de férias, nem ganho um centésimo do que o senhor ganha e trabalho com seriedade.

Saí do estádio sem conseguir falar uma palavra.

Atônita e surpresa sim, porque eu acreditava que o elenco do Corinthians pudesse, pelo menos, honrar aqueles que acreditavam.

Porque sempre acreditei que eu, como torcedora, pudesse ter alguma importância (mesmo que financeira) para o clube.

Voltei para São Paulo pensando que por muito menos a torcida expulsou do clube um dos maiores jogadores da história do futebol, o Rivelino.

Que, mesmo naquele contexto importantíssimo que é um Corinthians X Palmeiras, ele pode ter errado, mas jamais entregado uma partida a nosso rival.

Que a gente pode ter perdido um clássico, um título, mas que não perdemos a dignidade tanto quanto neste domingo, em Campinas.

Nem quando fomos rebaixados para a Série B.

Sei que a falta de dignidade não é única e exclusiva da diretoria do Corinthians.

No próximo fim-de-semana, por exemplo, é a última rodada do campeonato e o Grêmio anunciou que pode escalar o time reserva contra o Flamengo apenas para prejudicar o Inter.

Que o mesmo Inter entregou uma partida para prejudicar o Corinthians contra o Goiás, em 2007.

Que muitas pessoas consideram isso absolutamente normal no futebol e depois reclamam de ética em seu trabalho, nas relações pessoais, enfim, em sua vida.

O futebol é espelho de tudo isto.

Se a falta de dignidade não é única e exclusiva da diretoria do Corinthians e do elenco corinthiano, é com ela sim que eu me preocupo, porque eles, infelizmente, carregam o escudo que eu defendo.

Se todos os anos para mim terminam com o fim da temporada de futebol, 2009 foi o ano que terminou mais cedo.

Curarei minha ressaca futebolística longe de Corinthians X Atlético Mineiro.

Sei que a minha fé no futebol retornará assim que a ressaca passar.

Que eu encerrarei o papo de “não bebo mais” e continuarei enchendo a cara dessa cachaça.

Que seguirei acreditando que outro futebol é possível: com dignidade, honestidade e hombridade.

Com jogador que defende o escudo do clube acima de qualquer dinheiro, com dirigente que recusa mala branca e leva em consideração sua torcida, com elenco que não entrega a partida, com torcedor apaixonado que prefere ver o time ganhar a ver o rival se dar mal.

Morrerei velhinha acreditando.

E precisarei de dois caixões: um para mim e outro para a minha santa ignorância.

*Leonor Macedo é corintiana e jornalista.

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3 Respostas to “Corinthianismo”

  1. Uilson Souza Says:

    Sugiro a rescisão do contrato do Jucilei pelo que fez no domingo e uma chamado substancial no resto do elenco e se necessário for, que outros tb sejam demitidos….como o sr. Felipe que pra mim, se quiser, pode pegar o chapéu e ir embora.
    Jamais imaginei que essa atitude cafajeste um dia pairasse pelos arredores do Corinthians.
    Maior que a rivalidade, libertadores e o que seja é a honra do nosso time que não é qualquer um…é um time centenário.
    Hoje vi o twitter do Mano Menezes dizendo que vai treinar em dois turnos…ahahahahaha…pra que??? Pra dar vexame…pra manchar nossa história com recuos para o goleiro e passes sem objetividade?
    Quem nem treinar treinem…que tenham folga até o jogo de sábado e que só reservar e juniores sejam escalados.

  2. Denilson Says:

    Que exagero!!! apesar de não ter ido ao jogo., até pq não tenho grana pra tanto, o que eu vi na Tv é um Corinthians tentando algo, como tentou nas últimas rodadas, e só levevando fumo. agora, querer que o Corinthians de o sangue, pra um jogo que não valia nada? ai para né, isso pra mim é coisa de corintianos que estão bambiando nos pensamentos
    pra mim quem entregou o jogo foi o proprio spfc, que no começo do campeonato, entreou desmotivado e com jogadores reservas por causa da libertadores, vai combrar deles agora, e em relaçao ao amigo ai, que fez um comentário,metendo pau no jucilei e felipe, são os mesmo que metiam o pau no douglas e agora reclamam do diretoria imcopetente que os vendeu

  3. Uilson Souza Says:

    Denilson, a honra do Corinthians é tem que ser maior do que qualquer rivalidade. Pra mim não importa se o bambi ganhe ou perde…pra mim importa que o Corinthians ganhe..isso por si só já deixa bambis e porcos fulos da vida. Não precisa dar o sangue…nem tampouco fazer o que fez.
    Se o bambi entrou com reservas ou não…isso não me diz respeito…eu sei do meu time e nao do time dos outros. Aliás…tenho uma vasta história como Corinthiano…se quiser, um dia eu lhe conto tudo que vivi com esta camisa e aí veremos que é mais corinthiano…eu ou vc.
    Nunca critiquei o Douglas..aliás…ele faz falta mesmo..só achava ele relapso em algumas situações…mas, ainda assim não foi substituido a altura. Sempre fui um dos maiores defensores do Jucilei, agora, apesar de amor que ele tem pelo time cliente VIP do SERASA, ele ganha (e muito bem) do Corinthians pra pelo menos não deixar o Zé Roberto entrar na área como entrou. E além disso, ele sequer passava do meio campo…coisa que nunca fez, mesmo jogando na posição que jogou. Vi o Defederico dando o sangue e correndo como nunca…e a gente tem mania de meter o pau nos argentinos. E outra…o Felipe não tem que ficar parado numa cobrança de penalti…tem que, pelo menos se jogar na bola…agora o imbecil vai pro STJD e corremos o risco de tê-lo suspenso…legal isso pra vc?
    Agora…se atos como estes são normais para pessoas como vc…então meu amigo…o problema não sou eu…aprendi a ter responsabilidade, caráter e bom senso. Creio que seus pais devem ter lhe ensinado a mesma coisa…basta a vc querer aprender ou não.
    E pra finalizar…o correto é INCOMPETENTE e não IMPCOMPETENTE. Na escola onde estudei o “M” só é usado antes de “P” e “B”.

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